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Falácias da Vida Humana (I)
- Introdução ao Tema –
Klinger Sobreira de Almeida*
Falaz, diz o dicionário de Houaiss, é o
que engana, frauda, ilude... Falácia, por decorrência, conota a qualidade do
que é falaz.
Falácias da vida humana são as mentiras,
as felonias, os enganos, as fraudes, as ilusões... Enfim, as inverdades e/ou
crueldades que, ao longo da travessia humana, nos guiam por linhas tortas, ou
balizam nossa caminhada por veredas trevosas, muitas vezes, ou quase sempre, com
aparência e roupagem ou fantasia de verdade.
As falácias empolgam o Ego, submetem-no
a incoercível atração, e o ser humano se curva, e, tal qual o personagem
lendário de Homero, deixa-se levar pelo “canto da sereia”. Torna-se, então, um
escravo, um cego moral, percepção e mente agrilhoados.
No decurso dos séculos, alguns
luminares, mestres incontestáveis – Sócrates, Khrisna, Buda, Jesus Cristo - nos
anunciaram a verdade, mostraram-nos o caminho. Aliás, este último, dando-nos a
mensagem da Boa Nova, foi bem claro: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos
libertará” (Jo 8:32). Sim! Só a verdade liberta. O inverso é escravidão.
Conhecer a verdade! Quão difícil é ao
ser humano, ainda andarilho cósmico de baixo nível consciencial, desvendá-la,
embora ela tenha sido dita, divulgada e inspirado grandes religiões! Mas por
que essa dificuldade? Porque a verdade, no
dizer do vulgo, é crua e nua. Não dispõe de marketing
que emoldura e embeleza artificialmente; não acena com ilusões e prazeres. Para
alcançá-la, avançando pelas trilhas que lhe chegam – ínvias, escarpadas,
pedregosas, estreitas... – alguns atributos, que temperam o caráter rijo, se
impõem: esforço, dedicação, fortaleza, persistência, foco e, sobretudo,
renúncia e resistência às ofertas inebriadoras que nos assediam.
Recorrendo ao pensamento de Gibran,
poderíamos vislumbrar a busca da verdade como uma progressão alada do Ego vulgar
ao Eu superior, o que possibilitará descortinar a luz distante – a luz da
liberdade - e o seu chamamento. Todavia,
no torvelinho mundano, não é fácil levantar o voo. Há barreiras fortes e rijas:
As Falácias da Vida Humana. Estas, recheadas de apegos e desejos, são
armadilhas que, oferecidas com a suavidade envolvente do “canto da sereia”, atraem
o Ego vulgar, seguram-no imobilizam-no e fazem-no resistente rumo ao patamar da
verdade, o sítio da libertação.
Nesta série de artigos em sequência –
reflexões que compartilho com amigos (as) e pessoas de espírito aberto –
focalizarei, na minha visão da vida, as falácias mais evidentes.
*Militar Ref. PMMG, escritor membro da Academia de
Letras João Guimarães Rosa
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