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RETROSPECTIVA
ROSIANA
Klinger Sobreira
de Almeida*
1.
Força Pública Mineira→Da Raiz ao Topo
“A ideia do mito fundacional da Polícia de Minas aparece na narrativa da
criação Regimento Regular da Cavalaria de Minas (1775), e em especial no
destaque dado à presença do alferes Joaquim José da Silva Xavier, em seus
quadros.” (Francis Albert Cotta – Breve História... p.13, Ed 2006).
O Séc. XVIII, no contexto da gradual e
dificultosa edificação da brasilidade sob o tacão do colonizador, recebeu o
impulso de uma terra recém desbravada por aventureiros paulistas, índios e
negros. No turbilhão de uma população nova, as Minas de Ouro recebiam, em 1720,
o status de capitania: separava-se de
São Paulo.
A capitania de Minas, fonte de ouro,
diamante e outras riquezas, cresceu na inquietação de homens vinculados à terra
por nascimento, interesses econômicos ou entranhamento à cultura que germinava no
torvelinho dos entreveros sangrentos. Desenvolveu-se na contestação, no
enfrentamento e na luta contra a ganância de uma metrópole insensata. O
sentimento de “mineiridade”, sedimentado naquela inconformidade ativa, poder-se-ia
dizer, constituiu a célula-mater da “brasilidade”.
Naquele contexto glorioso, veio à luz a Força
Pública Mineira, cujas raízes assentam-se no Regimento Regular de Cavalaria de
Minas, criado em 1775 − primeira tropa paga do Brasil-Colônia, formada, nas
bases, por montanheses forjados nos embates pela sobrevivência. Nascia uma tropa
alicerçada na hierarquia/disciplina e no culto aos valores do dever.
Regimento de Cavalaria, estrutura e
estética militar, teve como função primordial o exercício da polícia de
patrulha, combatendo a criminalidade, mormente salteadores de estrada, e
levando tranquilidade a todos os rincões mineiros. Porém, nas situações
críticas, socorreu o reino contra iterativas sublevações, e esteve ao lado do
Príncipe-Regente no momento glorioso da Independência Pátria.
Essa Força Pública original, apesar das
ondulações político-administrativas, jamais se desfez. Seu porte, adestramento,
disciplina e coesão tornaram-na fundamental. Parte dela constituiu-se numa das
células do Exército Brasileiro; outra, força confiável e leal, garantiu, nas
instabilidades institucionais do pós-independência, a ordem pública sempre
ameaçada. Por derradeiro, o efetivo remanescente serviu de lastro, 1831, ao
advento do Corpo Policial da Província.
Sobre essa tropa mineira, dentre os
inúmeros depoimentos, é importante rememorar trechos de dois testemunhos
citados pelo patrono da Cadeira Areopagítica 04, Historiador Augusto de Lima
Jr, em sua Crônica Militar.
John Mawe – observador inglês do
Intelligence Service (1809-1810) – escreveu a respeito dos cavalarianos
mineiros: “Estes cavalarianos vão à cata
de criminosos, guardam as prisões (...)
O Regimento é belíssimo e goza de tão alta reputação que, muitas pessoas
se apresentam para ser alistadas (...) Este ardor facilita aos Governos, oportunidade
de escolher homens inegavelmente animados de verdadeiro espírito militar, e
conhecido, ao mesmo tempo, por seu bom procedimento. Dizem, e eu creio, de bom
grado, que a este respeito aquele Corpo não tem igual.”
O naturalista francês Saint´Hilaire
(1816-1825), em termos firmes, expressou sua admiração. “A Província de Minas Gerais possui, pois, um Regimento de Cavalaria que
é pago pelo seu Tesouro e cujo serviço é especialmente consagrado a essa
Província, mas que pode, em caso de necessidade, ser chamado a atuar alhures ao
serviço do Soberano. (...) Os soldados do Regimento de Minas são altos, bem
constituídos e têm boa apresentação; esse é porém o menor elogio que se lhes
pode fazer. Em país algum, vi Corpo de simples militares tão perfeitamente
constituídos. Bastante diferente dos
homens tão pouco dignos de apreço que constituem os Regimentos do Rio de
Janeiro, os soldados de Minas pertencem geralmente a famílias dignas; sabem
todos ler e escrever e são notáveis por sua polidez, excelente conduta e
probidade...”
O Corpo Policial, criado em 1831, teve à
esteira esse fabuloso Regimento de Cavalaria, e, em linha direta, seguiu-lhe as
tradições no Brasil-Império. Manteve a ordem no vasto território e fez-se
presente nas lutas intestinas, visando à consolidação da pátria. Na Guerra do
Paraguai constituiu a espinha dorsal da Brigada de Voluntários que vivenciou a
heróica Retirada da Laguna.
Implantada a República, a Província de
Minas Gerais, elevada a Estado Federado, encontra, na organização que veio do
Império, a estrutura matriz para instituição dos Corpos Militares e bases de
uma Polícia Judiciária. As crônicas avoengas de nossa República mostram-nos uma
Força Pública pujante em ações de combate, mas sempre presente na Segurança
Pública com seus destacamentos policiais. Até a década de 1970, a força,
através de seus Delegados Especiais e de Capturas, escrivães e Investigadores
(equipes de triagem), deu suporte à estruturação de uma organização de Polícia
Judiciária, hoje denominada Polícia Civil.
Hodiernamente, por força da legislação federal,
a bissecular Força Pública Mineira desdobrou-se, de fato e historicamente, em
duas instituições de Polícia de Segurança Pública: (1) Polícia Militar, articulada
em todo o Estado – Regiões, Batalhões, Companhias, Pelotões e Destacamentos – com
a missão principal de Polícia de Patrulha; (2) Corpo de Bombeiros Militar,
também articulado em todo o território, como Polícia de Prevenção/ Extinção de
Incêndios, Proteção e Salvamento.
2.
Força ↔ Letras
“Nem
cora o livro de ombrear co’o sabre...Nem cora o sabre de chamá-lo irmão...”
(Castro Alves)
Inteiramente dedicada à atividade de
polícia em todas suas nuances – patrulha, guarda e judiciária – 1890 a 1910 – a
Força Pública atendeu o direcionamento político do Estado: ensejou a criação,
em seu seio, do Corpo de Bombeiros, e deu suporte à implantação de uma Guarda
Civil para aliviá-la do patrulhamento da capital. Alinhando-se ao modelo de São
Paulo e Rio Grande do Sul, adestrou-se, mormente os batalhões sediados na
capital, na arte militar. O Governo Mineiro, visualizando o cenário político de
mutações violentas no quadro federativo, contratou, em 1912, um Instrutor
Suíço, Capitão Roberto Drexler, de formação prussiana, comissionando-o com
elevada autoridade no posto de coronel. Adquiriu armamentos modernos, e começou
um intenso e qualificado treinamento de infantaria e cavalaria. Partiu para uma
militarização da Força Pública, que se
tornou, 1918, reserva de primeira linha do Exército Brasileiro.
O Cel Drexler, estilo prussiano, assumiu
seu papel na plenitude: Instrutor-Chefe. Preparou sucessivos Batalhões-Escola –
oficiais e praças submetidos a treinamentos técnico-individuais, serviço em
campanha, tiro e táticas de combate. Criou-se um “exército estadual” de escol.
Em 1920, conforme noticia a imprensa da época, as tropas mineiras, então
ancoradas no 8º Batalhão-Escola, maravilharam o Rei da Bélgica e sua comitiva,
por ocasião da visita real ao nosso Estado.
O impulso Drexler e a aliança com o EB resultaram
no despertar da oficialidade para a cultura e preparo intelectual que tanto
impressionara o francês Saint’Hilaire, nos tempos do Regimento de Cavalaria.. Aqueles
antigos Alferes e tenentes Delegados Especiais de Polícia que primavam no
comando da Segurança Pública tanto na capital como no interior, e produziam
úteis e consistentes relatórios, capitaneados por Otávio Campos do Amaral, semearam
em terreno fértil. E a semeadura deu colheita boa.
Fev1928: Bias Fortes – Cmt Geral – inaugurou a
Escola de Sargentos, tendo à frente o Tenente EB Campos Christo, comissionado
Major. Esse educandário pioneiro, em cursos de dois anos, foi num celeiro de
grandes líderes. Seu fechamento, por razões políticas, deu-se em agosto de 1931.
Nos campos de batalha, em Minas e alhures,
a Força Pública, nas insurreições dos anos 20 e confrontos das Revoluções de
1930 e 1932, demonstrou, à exuberância, sua capacidade de combate.
As décadas de 1930/1940, na sequência das
glórias revolucionárias, representaram para a instituição policial-militar um
resplendor cultural-profissional. A vinda da Missão Militar Instrutora-EB, em
1933, abriu os cursos de Sargentos de Infantaria e Monitor de Educação Física
aos nossos praças, e ensejou sob a liderança de Ernesto Dornelles, José Vargas
e Edmundo Lery, a implantação do Departamento de Instrução (atual Academia de
Polícia Militar).
Sob o governo de Benedito Valadares, a
Força formou os primeiros sargentos e oficiais no DI. Estes, concomitantemente
às atribuições militares e policiais, atuaram, intensa e predominantemente,
dando vida ao escotismo e à implantação das Praças de Esportes no interior. No
contexto de uma aviação ainda incipiente, oficiais mineiros sobressaíram-se
como Instrutores dos nascentes Aero-Clubes.
Emergem os escritores: literatura
profissional, poesia, crônica... A
Revista Libertas, criada no comando do Cel José Vargas da Silva, em seus dois
anos de existência – 1949/1950 – permite-nos rever, numa amostragem, a “pena
fértil” de alguns milicianos das letras: Lélio Graça, Saul Martins, José
Pereira da Silva, Affonso Heliodoro, Antônio Heliodoro, Manoel José de Almeida,
Geraldo Pinto de Souza, Antonino Machado, Aures de Oliveira, Omar Ferreira,
Jesus Miranda, Milton Campos, Sinval Santiago, José Gonçalves de Souza, Geraldo
Walter da Cunha, Santos Ferreira Cavalcanti, Antônio Norberto, Geraldo Tito da
Silveira, Paulo Renê de Andrade, Marques Rosa, Alberto Piantanida, Oswaldo
Carvalho, Jenner Araújo...
Nesse período Cel José Vargas, dentre a
variada gama de avanços culturais, instituiu-se a Diretoria de Ensino Policial,
remodelou-se o ensino profissional na corporação, vieram à luz o Ginásio
Tiradentes e as Escolas Caio Martins.
As décadas passam, e o império das letras
firma-se. Em 50, 60 e 70, os manuais didáticos e diretrizes doutrinárias são
produzidos no Estado-Maior, Departamento de Instrução e alguns batalhões. As
conhecidas DPO/70 – Diretrizes de Policiamento Ostensivo inovam, no campo
tático e na seara doutrinária, o exercício da Polícia de Patrulha. Norberto (O
Policiamento), Leite Barbosa (Polícia Educativa), Satys (Sua Excelência o Cabo)
e Waldir Soares (Manual de Radiopatrulha) tornam-se escritores profissionais de
renome no âmbito policial. Nesse
universo de qualificação profissional e intelectual, implanta-se,
pioneiramente, no D.I, o Curso Superior de Polícia, que acolhe oficiais
superiores de diversos Estados e Delegados de Carreira.
A Força Pública, inovadora e modelo, não
cessa seu avanço intelectual-profissional. Sua história e evolução são devassadas
por escritores milicianos: Paulo Renê de Andrade, Anatólio Alves de Assis,
Leozitor Floro, Ary Braz Lopes, Capelão Luiz De Marco... A doutrina agiganta-se
com a Revista O Alferes, nascida em Janeiro1979 e consolidada nos anos 80.
Novas concepções operacionais, calcadas em manuais internos e postas em
prática, resultam em êxito incomum: distensão da malha protetora com sucessivos
recobrimentos táticos, ROTAM, despacho automatizado de patrulhas, patrulhamento
aéreo, policiamento distrital, policiamento comunitário... Lições de
engenhosidade tática e doutrina semeiam-se pelo Brasil. Enquanto muitos dos
pioneiros continuam na faina da produção intelectual, emergem safras de
escritores profissionais: Amauri Meireles, Euro Magalhães, Alcino Lagares,
irmãos Espírito Santo, Edgar Eleutério, Laurentino Filocre, Francis Albert
Cotta e outros ilustres nomes.
3. Coroamento da Interação
“A
Força Pública se caracteriza, antes de tudo, pela homogeneidade no cômputo de
seus valores, continuidade no manter as suas tradições de disciplina e bravura,
contribuindo para isso o processo de formação das suas patentes, que galgam das
primeira graduações aos topes do oficialato, por um processo de rigorosíssima
seleção de aptidões e de capacidades.”
(Oração do Capitão-Médico João Guimarães Rosa, 9º BI/Barbacena, em 27Mai1933)
Polícia Militar e Corpo de Bombeiros
Militar – diferentes papéis na Segurança Pública – corporações oriundas do
desdobramento da Força Pública Mineira, ainda unidas nos anos 90, alcançaram o
apogeu intelectual-profissional.
Muitos pioneiros do despertar intelectual
haviam, cumprida a missão terrena, voado rumo à Pátria Espiritual, legando aos
pósteros preciosa obra literária de variados matizes. Porém, razoável grupo daqueles
luminares, embora encanecidos pelo tempo, permaneciam firmes como legendas de
uma tropa imbatível. Ao lado, havia incontida ânsia dos novos escritores.
Impunha-se aglutinar a herança do pretérito, preservá-la, e criar ambiência
para acolher e incentivar os valores surgentes.
1995! O Cel Ary Braz Lopes –
profissional-intelectual de rara estirpe, escritor e cronista de renome –
preocupava-se em perenizar a produção profissional, doutrinária e literária emergida
ao longo dos tempos. Buscou apoio no Cel José Satys Rodrigues Valle, que a ele
se alinhou. Procuraram o idealista Cel Edgar Soares, na época Presidente do
COPM, pleiteando que a entidade criasse uma estante do escritor-militar, onde
todas as obras ficassem expostas para conhecimento das gerações entrantes.
Edgar entusiasmou-se com a ideia e foi
mais longe: Por que não criar, sob a égide do Clube dos Oficiais, uma Academia
de Letras? Abria-se a janela para um “empreendimento literário” de alta
relevância. Incontinenti, Ary aglutinou os escritores que, tendo obras
editadas, comungassem o mesmo ideal. Mais nove juntaram-se a Ary e Satys:
Affonso Heliodoro dos Santos, Carlos Alberto Carvalhaes, Saul Alves Martins,
Jair Barbosa da Costa, Klinger Sobreira de Almeida, Antônio Norberto dos
Santos, Geraldo Tito da Silveira, Oswaldo de Carvalho Monteiro e João Bosco de
Castro. Compusera-se o grupo de fundadores. O sonho estava prestes a
realizar-se.
Reuniões preliminares, sob a batuta do
Presidente da entidade mantenedora, COPM, corporificavam o ideal. Em 21Ago95,
na sede do COPM, fundava-se a Academia de Letras João Guimarães Rosa da Polícia
Militar de Minas Gerais, e a força-motriz, Cel Ary Braz Lopes, eleito Presidente.
Iniciou com 33 (trinta e três) Cadeiras Areopagíticas, tuteladas por nomes que
brilharam nas letras mineiras, tanto autores militares, como aqueles que deram
expressão à mineiridade.
Houve unanimidade na escolha do nome da
Academia. João Guimarães Rosa, ícone da literatura pátria, nos primórdios da
carreira como médico, fora capitão comissionado no 12º BIP – Batalhão de
Infantaria Provisória, por ocasião do movimento revolucionário de 1932.
Desmobilizado, ingressara por concurso na Força Pública, servindo no 9º
BI/Barbacena, onde firmou raízes de amizade e saiu para ingressar na diplomacia
brasileira.
Na verdade, a presença de Guimarães Rosa na
vida militar fora marcante, e nunca renegada, inclusive a forte amizade com o
Coronel-Médico Juscelino Kubitschek de Oliveira, Presidente da República, que o
promovera a Embaixador, em 1960, quando ambos, recordando os velhos tempos, trataram-se
em linguagem militar. Sobre esse aspecto, Mário Palmério, escritor que privou da
amizade de Rosa, ao substituí-lo na Academia Brasileira de Letras, proferiu magistral
e substancioso discurso, e enfatizou a ressonância das coisas da caserna e o convívio
militar na Obra Rosiana.
A Academia instalou-se, no COPM, em
05Out95. No entanto, os fados do destino impediram que o idealizador e Primeiro
Presidente – Cel Ary - assumisse o cargo. Insidiosa doença prendia-o em leito
hospitalar, de onde transmitiu, via telefônica, emocionantes palavras. Coube ao
Vice-Presidente Tenente-Coronel Jair Barbosa da Costa conduzir o ato solene,
representando o Cel Ary, que, em 08Nov95, segundo a expressão de Guimarães
Rosa, encantou-se. O idealista partira rumo à pátria espiritual, após entregar
sua mensagem perene: a Academia de Letras João Guimarães Rosa.
Coube ao indômito Cavalariano Jair Barbosa
da Costa – guerreiro do idioma pátrio, respeitado na comunidade lusófona –
conduzir o sodalício nos seis primeiros anos, consolidando-o dentro das
instituições militares mineiras e no mundo acadêmico. Não havia sede própria.
As reuniões eram feitas no gabinete do Presidente do COPM. Época de
precariedade, quando se implantaram as reuniões itinerantes: Instituto
Histórico-Geográfico, 1º BPM, 5º BPM, BPtran, RCM...
Em 27 de dezembro de 2002, sob a
Presidência do Cel Carlos Alberto Carvalhaes, que prosseguira o esforço de Jair
Barbosa, realizou-se o sonho da Casa Própria. A Academia recebeu como sede o
antigo Corpo da Guarda do DI. Colaboraram para o desiderato feliz, o então Cmt.
da APM, Cel Ari de Abreu, e o Presidente do COPM – Cel Paulo Afonso de Miranda.
Em cerimônia significativa o Cmt. Geral – Cel Álvaro Antônio Nicolau –
entregou-nos a aconchegante sede, que ensejou uma nova dinâmica aos trabalhos
literários.
Após o triênio de realizações de Carlos
Alberto, inclusive o sempre lembrado concurso de poesia – Prêmio PMMG de Poesia
– e o ingresso dos quatro primeiros Acadêmicos Efetivo-Curriculares: Alcino
Lagares Côrtes Costa, Edgar Eleutério Cardoso, Felisbino Cassimiro Ribeiro e
Georgino Jorge de Souza, a Academia é privilegiada com um novo triênio que se
notabilizou por portentosos eventos culturais, incrementando-se o concurso de
poesia. Ao Cel Adilson Cerqueira Soares credita-se uma fase de ascensão cultural
do Sodalício Rosiano.
Sucedeu a Adilson, por três mandatos
sucessivos (nove anos), o erudito cultor da pureza do idioma camoniano, Tenente
Coronel João Bosco de Castro. Sua gestão notabilizou-se por iterativas
palestras de elevada conotação idiomática; criou-se a Medalha Cultural “Saul
Alves Martins”, que deixara a convivência física em 10Dez2009. A comenda, que é
entregue anualmente, no aniversário de instalação do sodalício, a
personalidades ou instituições que concorrem para o avanço cultural da
comunidade, perenizou a memória do soldado, cidadão e pensador de escol, um dos
fundadores do areópago, e cuja obra cultural, ultrapassara as fronteiras de
nosso Estado.
A ALJGR vivencia a gestão 2017/2019. Entrou
no seu vigésimo quarto ano de existência. Sofreu profundas reformulações que a
marcha do tempo exigia. O Estatuto aprovado em Assembleia Geral de 27Mai17
deu-lhe uma amplitude maior: (1) às Cadeiras Areopagíticas de 1995, acrescentaram-se
mais 27, totalizando 60; (2) destas, 6 ficaram reservadas para filhos ou
cônjugues de militares que se destaquem no meio cultural; (3) os integrantes do
CBMMG, ativos ou inativos, passaram a receber as mesmas prerrogativas dos
militares da PMMG; (4) criou-se a categoria de Acadêmico-Parceiro, em número de
doze; (5) no culto às letras, priorizou-se os valores das instituições
militares de Minas, como preconiza o Art. 2º do Estatuto: “A Academia tem por finalidade preservar e desenvolver a cultura das
instituições militares do Estado por meio da pesquisa e estudos de sua
história, dos seus princípios doutrinários, de personalidades e temas
relacionados aos seus objetivos institucionais.”
O que simboliza esta Academia de Letras e
qual seu papel no contexto militar mineiro?
Reporto-me a trechos da mensagem de posse
em 1ºDez16: “Este areópago, no conjunto
dos que o compõem, a partir da figura silenciosa dos patronos que ornam a
entrada principal, constitui o símbolo vivo das pelejas ancestrais (...) Traz-nos
à memória, num retrospecto cívico-sentimental, os anos de 1780, quando o
imortal Alferes Tiradentes e seus camaradas do Regimento Regular de Cavalaria
de Minas patrulhavam as ínvias estradas da Capitania do Ouro, levando
tranquilidade às urbes, vilas e povoados...”
Na ocasião, recordando o pretérito
glorioso, afirmávamos o dever de reverenciá-lo, mas sem contemplação estática. “O passado – lutas, percalços, equívocos,
acertos, vitórias, lauréis... – enciclopédia de ensinamentos e exemplos, deve
servir de impulsão ao presente pujante que contém a ânsia incoercível do porvir.”
A Academia de Letras João Guimarães Rosa
não é campanário de divagações nem diletantismo. Deve ser, como o é, areópago
aberto aos pensadores das instituições militares mineiras, que perscrutam,
pesquisam e narram lances da história; que constroem doutrina e formulam
conceitos operacionais inovadores; que dissecam técnicas e táticas de contenção
da delinquência e da excelência no socorrimento público. Mas é também local que
acolhe o poeta, o prosador, o ficcionista, o ensaísta. . É local de culto ao
idioma e reverência a todos os apóstolos da Língua Portuguesa.
A Academia de Letras João Guimarães Rosa
não emergiu de um repente improvisado. Em simbologia, a ideia de incentivar
escritores, dizer a doutrina no bojo do idioma pátrio, irradiando o pensamento
da caserna, sempre esteve latente – vibrando embrionária! – ao longo da marcha
da história. O Espírito imortal dos cavalarianos letrados – admirados por
Saint’Hilaire! – pairava sobre as sucessivas gerações, inspirando-as,
intuindo-as e penetrando-lhes no silêncio das almas. Então! A eclosão da
vontade incoercível dos tempos de lutas e conquistas. Eis o coroamento:
Academia de Letras João Guimarães Rosa.
A Revista VEREDAS ROSIANAS, foi o sonho
acalentado pelo confrade Carlos Alberto Carvalhaes . Doravante, este site www.aljgr.com.br constituirá
instrumento de comunicação da Academia Rosiana. Com efeito, reafirmará a metáfora
que simboliza sua dupla função: Centrífuga, quando irradia a cultura
literária e profissional em desenvolvimento ou cristalizada, e Centrípeta,
ao criar condições para que os pensadores militares e familiares de todos os
rincões mineiros tenham um canal de convergência e reconhecimento do pensamento
na seara literária e/ou doutrinária.
Esta Presidência cumprimenta a Diretoria
de Marketing Cultural, na pessoa do Acadêmico Coronel Gilmar Luciano dos Santos
e todos seus colaboradores.
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*Coronel PM Reformado - Presidente da Academia de
Letras João Guimarães Rosa, Gestão 2107/2019.
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