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Vinte e dois anos de
Academia de Letras João G.Rosa
Jair Barbosa da Costa
Vinte e dois anos de vida
está fazendo a Academia de Letras João Guimarães Rosa, da PMMG. Eu disse, ao
concordar com Nivaldo Monte: vinte e dois anos “de vida” e não de existência,
porque as instituições são como os homens – vivem, ou seja, dinamizam-se, quase
sempre. Quando não é assim, sucumbem. Nivaldo Monte afirma que também as
pedras existem, mas não vivem porque não agem, são inertes.
Esta Casa de Letras de que a Polícia Militar hoje se orgulha
nasceu na mente e no coração do Coronel Ary Braz Lopes, cuja memória há de
sempre merecer a reverência desta Academia. Bibliófilo, fascinado com leituras
de variadas áreas do conhecimento, sobretudo humanístico, escritor e
jornalista, buscou de modo obstinado atualizar-se com seu tempo. Como
Secretário de Ensino da Academia Militar, antigo Departamento de Instrução, era
também Professor de Português de meu Curso de Formação de Sargentos (1957), do
qual fui assistente, sendo cabo-cavalaria, em suas aperturas administrativas.
Quanto me honra este testemunho!
Poispois... Saudoso Ary, saudoso sonho que ele
não acalentou debalde. Concretizou-o, em 1995, na administração do Coronel
Edgar Soares a presidir nosso Clube dos Oficiais, a partir de um simples
diálogo:
–
Que tal, Edgar, criarmos aqui no Clube uma estante de escritores milicianos –
indagou Coronel Ary?
Coronel
Edgar, esportista de escol da PM e do Estado, policampeão de algumas
modalidades, sensível à cultura lato
sensu, pensou, sim, mais de duas vezes, mas logo respondeu, com seu modo
educado de ser:
– Comandante Ary, essa ideia é tão sublime,
que nós devemos ampliá-la. Por que não uma academia
de letras em vez de estante ou biblioteca de nossos intelectuais? Afinal de
contas, são muitos escritores, e alguns deles bem conhecidos no mundo civil, na
imprensa e no magistério superior – arrematou.
S.I. Hayakawa, em seu livro A linguagem no pensamento e na ação (Language in Thougt and Action), trad.
bras.- Biblioteca Pioneira de Administração e Negócios, SP, 1963), ensina que
as “palavras-ronco” e as “palavras-arrulho”,
como tais, desacompanhadas de comunicados verificáveis, nada oferecem para uma discussão
ulterior, exceto possivelmente a pergunta “por que você acha que assim é?” (Grifei).
Meu prezado autor de cabeceira, os
protagonistas desta história, Ary e Edgar, sonharam alto – não se pode negar.
Entretanto, seu projeto audaz não estava assentado em “palavras-ronco” nem
“palavras-arrulho”, tampouco pairou dúvida nos interlocutores sobre a possibilidade
da concretização “ulterior” daquele breve debate, logo-logo transfeito em ação.
Mãos à obra. Nada de Olimpo. Fiquemos
aqui na Mantiqueira, na Caparaó, com os pés em nosso torrão! Seremos os
primeiros do Grupo dos fundadores.
–
De saída, podemos contar com o Carlos Alberto Carvalhaes e Saul Martins – que são
do Instituto Histórico e Geográfico. Ah... o Jair Barbosa, este conheço bem,
costumo chamá-lo de “paladino da Língua Portuguesa”, por ser seu grande
defensor – observou Ary Braz Lopes –, acrescentando: é professor e escritor,
com livros publicados, membro da Academia Municipalista de Letras de Minas
Gerais, tem experiência acadêmica, ocupa cargo administrativo lá (de fato, este
orador era Secretário-Geral da AMULMIG e Governador do Elos Internacional aqui em
1995).
Uma vez convocados e presentes à
primeira reunião de trabalho, Saul e Carvalhaes passam das conjecturas aos
fatos. Assim, tomando a ponta da esteira da conversa travada entre Ary e Edgar,
Saul Martins assume a palavra:
– Sugiro que o Jair Barbosa seja o
Vice-presidente. A bem da verdade, Saul não quis assumir esse cargo e, por
isso, passou a bola para o velho companheiro, amigo de meio século.
O Presidente Edgar Soares predispôs o
Clube para as sessões literárias no gatinhar dos primeiros tempos, até que se
pudesse pensar em sede própria para os “ociosos artistas da palavra”, segundo
Herman Hesse, desta Casa herdeira de Academus, que acabava de vir à luz num
audacioso parto mental de gêmeos gênios, prodigiosamente filha de dois pais – o
natural (genético) Ary Braz Lopes, e o orgânico (funcional), Edgar Soares,
prenhes da brilhante ideia e de grande ideal. Não se trata aqui de
fenômeno derrideriano – (desconstrutivismo de Jacques Derrida, mas de simples
figuração imaginística.)
O pai funcional decidiu, ali mesmo,
nesse encontro inaugural, que o estatuto do Clube deveria ser modificado para
se introduzir a recém-nascida como sua dependente legal, estatutária, pois até
nome já havia recebido – Academia de Letras João Guimarães Rosa, da Polícia
Militar de Minas Gerais, em homenagem ao escritor mineiro, Autor de Grande sertão: veredas e outros títulos,
embaixador do Brasil na Alemanha, membro da Academia Brasileira de Letras, fama
mundial, Capitão-médico da PMMG, cuja extensa biografia justificava sua
escolha como Patrono.
Foi assim que o vanguardeiro time de
pensadores transformou o sonho de Ary Braz Lopes em projeto de Edgar Soares, fazendo
do idealizador o Presidente e do próprio Edgar, Acadêmico Fundador-Instalador,
condição esta, aliás, há pouco formalizada em sua plenitude semântica por ato
administrativo, serôdio embora, do atual Presidente, Acadêmico
Efetivo-Curricular Klínger Sobreira de Almeida.
O quadro dos 11 Acadêmicos fundadores e respectivos cargos do Silogeu Rosiano ficou
assim:
Ary Braz Lopes – Presidente
Edgar Soares – Fundador-Instalador
Jair Barbosa da Costa – Vice-presidente
Saul Alves Martins – Presidente do Conselho Superior
João Bosco de Castro – Secretário-Geral
Carlos Alberto Carvalhaes – Mestre de Cerimônias
Oswaldo de Carvalho Monteiro – Decano
Affonso Heliodoro dos Santos
Antônio Norberto dos Santos
Geraldo Tito da Silveira
José Satys Rodrigues Valle
Klinger Sobreira de Almeida
– Saul e Carvalhaes, vamos escolher os
patronos das 33 cadeiras – solicitou o Presidente Ary Braz Lopes.
O critério de escolha: serem
reconhecidamente intelectuais de alto nível, de variadas áreas do conhecimento
(– filosofia, história, política, literatura, Língua Portuguesa, poesia,
ficção, jornalismo, ensaio e crítica –) entre militares-PM e civis de
notoriedade nacional que se ligaram à Corporação. Para não me estender, cito
apenas alguns. Primeiro deles, o próprio Patrono, João de Guimarães Rosa,
seguido do colega de farda e profissão, ex-presidente da República, Juscelino
Kubitschek de Oliveira, o historiador Augusto de Lima Júnior, amicíssimo da
Polícia Militar e dedicado pesquisador de sua história, sempre a prestigiar
seus eventos cívicos, Major-PM Anatólio Alves de Assis, historiador, já
pertencente ao Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Prof. José
Lourenço de Oliveira, cuja cadeira ocupa, honrosa e imerecidamente, este orador,
o também historiador, Cel Paulo Renné de Andrade, o jornalista e crítico
literário de renome, Djalma de Andrade, Gustavo Capanema, Secretário de Estado
e ex-comandante-geral da PM, Pedro Paulo Penido, Cel José Geraldo Leite
Barbosa, Dr. Flávio Neves, o memorialista Pedro Nava...
É oportuno e digno de memória
registrar os novos patronos, nossos
confrades contemporâneos da primeira hora de lutas e triunfos, no construir e
consolidar o ideário de afirmação desta Academia: Oswaldo de Carvalho Monteiro,
José Satys Rodrigues Valle, Geraldo Tito da Silveira, Felisbino Cassemiro
Ribeiro, Paulo Penido, Saul Alves Martins e Antônio Norberto dos Santos. Todos
eles, cumprida a dupla missão terrena de soldado e humanista, desligaram-se do
imenso vale rumo à definitiva morada, nas paragens siderais, habitação segura e
serena, destinada aos espíritos iluminados, onde devem estar a ouvir, ad eternum, As quatro estações e Gloria
in excelsis Deo, de Vivaldi, ininterruptamente...........
Instalação da Casa Rosiana.-
Vinte e um de agosto de 1995. O Clube
dos Oficiais engalanado, grande mesa de autoridades de Governo e da PM,
parlamentares, expressiva representação acadêmica para batizar a nova
instituição da Polícia Militar de Minas Gerais – “mais um ineditismo em sua
história, já marcada por algumas exclusividades.”– assinalou Ary, seu
idealizador – a Academia de Letras João Guimarães Rosa, primeira do gênero no
Brasil. A Orquestra Sinfônica da Corporação estava ali abrilhantando o mais significativo
evento cultural de que se tem notícia entre nós. Mas... e o presidente, já
constituído, CORONEL ARY BRAZ LOPES – que é dele? O seleto auditório não sabia
o que haviam feito do presidente. Seu lugar, ao centro da grande mesa enfeitada,
estava vazio. Havia muitos sussurros no ar entre os organizadores e alguns convivas.
Algo muito sério estaria por vir.
E o Carvalhaes? Por onde andava
àquela altura? Nem ele, que nos últimos dias vinha acompanhando de perto a
evolução de uma enfermidade do Coronel Ary, genetriz onírica daquele grupo de
pensadores por um areópago miliciano.
Ah... Lá vem vindo, sorumbático,
passo apressado, o Carvalhaes de todas as horas com Ary, nos últimos tempos. Trazia
na mão direita uma trêmula página ditada pelo Presidente Ary ao telefone do companheiro
– era a primeira palavra a seus confrades co-fundadores.
Primeira... e última palavra do humanista
entusiasta, que fez daquela mensagem, dobrada com desvelo por Carvalhaes, o
repositório da essência de seu ideal, como a dizer – “meus Confrades, recebam o
derradeiro suspiro da minh’alma”, tão
aquinhoada de saberes, digo eu agora, e muito sedenta de irradiá-los entre os
irmãos de farda e o mundo das ideias.
Do leito hospitalar, onde convalescia,
talvez não sentindo naquele quadro o prenúncio da paz definitiva, “aquela que
excede a todo entendimento”, um balbucio, mortiço e sumido que o Carvalhaes,
com algum esforço, captava do fraterno amigo a resfolegar como quem chega ao
cabo da última volta de uma longa corrida. Ora, não era o estertor, pois nosso
herói ainda consegue exalar significativa partícula da alma irrequieta para
saudar, por meio da pena do confrade Carvalhaes, a nascente Academia de Letras,
gerada no ventre de sua mente arguta.
Uma pequena paragem para breve paralelo
grosseiro entre situações semelhantes: Tancredo e Sarney – presidente e vice-presidente
do Brasil, eleitos em 15 de março de 1985. Tancredo morre, sem tomar posse, a
21 de abril daquele ano, e Sarney assume o Governo no mesmo dia.
Só nesse aspecto fatos e atos se
assemelham a Ary Braz Lopes-Jair Barbosa da Costa e a circunstância descrita, porque
José Sarney encontrou casa pronta – e que casa! – Palácio para despachar e palácio
para mordomiar nababescamente.
Quanto a nós, pobres imortais
milicianos, desnecessitados, sem dúvida, de bolsa-família, mas sem teto
acadêmico para abrigo e culto das ideias e sua difusão entre os consanguíneos
de farda e amantes das letras, como também no mundo civil.
Tal como no comando do Brasil, ocorre
no comando da Academia, ou seja, a Casa de Rosa viu-se, abruptamente, órfã do
Presidente-genitor: seu desenlace se dá no dia 8 de novembro de 1995, 34 dias
após a concretização do grande sonho. Esse fato vem transtornar os principais
mentores do processo de criação, porquano quase tudo estava por realizar-se. Dessa
feita, no entanto, a batuta presidencial passa ao vice- presidente, Jair
Barbosa da Costa, que veio a ser, de fato, o primeiro presidente, substituto
natural de Ary Braz Lopes.
Academia em ação
Nos primeiros tempos, com apoio
logístico da administração Edgar Soares à frente do Clube dos Oficiais, tudo
corria bem, não obstante o Estatuto não tivesse, ainda, sido modificado com a
inserção de um dispositivo em que a Academia figurasse como apêndice cultural,
por cuja manutenção a entidade social se tornava responsável. Essa alteração só
se efetivou, em 1996, na presidência do Coronel Edvaldo Piccinini Teixeira.
A Sala de Reuniões do Clube transformava-se,
uma vez por mês, em ambiente literário, entre oito e onze horas. As carências
de toda ordem pipocavam, sobretudo devido ao fato de o novo presidente não ter
a paternidade da incômoda criatura, agora órfã dos dois pais – o genético, que
nem pôde assistir a seu nascimento, porquanto, um mês após sua vinda à luz, se
apaga aqui para iniciar a esplêndida trajetória ascensional; o segundo – o funcional,
acaba de entregar as chaves do Clube ao novo presidente.
Convidei o Coronel Piccinini a
participar de uma das sessões literárias. A certa altura, passei a expor-lhe sobre
a impossibilidade de nossa sobrevivência sem efetivo apoio logístico do Clube
dos Oficiais, criador da Academia. Até hoje me apiedo do infeliz Presidente
que, antes de deixar cambaleante aquela sala, assumiu a palavra para desabafar:
“Vocês podem crer: se eu soubesse que iria apanhar desse jeito, não teria
aceitado o convite para vir aqui.” Será que tínhamos a quem recorrer senão à
instituição provedora, independente da condição de mãe, ou madrasta?
Relativamente ao Clube, a pouco e
pouco, o necessário ajuste foi ocorrendo. O Coronel Piccinini passou a dedicar-se
de corpo e alma à Casa Literária de Guimarães Rosa – assistência administrativa,
coquetéis de muitos lançamentos de livros dos acadêmicos, nos salões do Clube,
adornos, garçons, retaguarda logística – tudo isso custeado pela entidade
anfitriã por ordem de seu Presidente que, até mesmo, de quando em quando, nos
surpreendia com sua presença aos trabalhos literários. Vejam só como um simples
puxão de orelha, sem ferimento, faz muita coisa melhorar! Muitíssimo obrigado, Acadêmico
Benemérito, com justiça, Coronel Deputado Edvaldo Piccinini, preciosa dádiva às
letras castrenses de Minas Gerais, pelo imprescindível e constante apoio a
nossa causa cultural que transcende as fronteiras desta Academia e da própria
Polícia Militar.
Itinerância acadêmica.
Mas não foi assim tão fácil pacificarmo-nos
com o Clube. É que tínhamos pressa, tão compreensível para com os jovens. Nossa
Academia estava na difícil transição de púbere para adolescente, não obstante a
precocidade epistêmica da maior parte da confraria. Impulsionada pelos
neurônios a pulularem em busca de uma dinâmica própria de quem pensa por milhões
que apenas discutem futebol, por cujos times se engalfinham na praça, essa
plêiade de pensadores, sob minha liderança, precisava espaço e reconhecimento.
Certa vez, lembrei-me de que Platão, perto de
quatro séculos a.C, após viajar por doze anos entre os chineses, egípcios,
indianos e judeus, em busca da essência do saber desses povos, ao regressar a
sua terra, Atenas, passou a reunir-se com seu grupo de filósofos nos jardins de
um rico homem chamado Acádemo, onde debatiam sobre a verdade das coisas e a
importância das ideias. Essa passagem me fez pensar – Que tal os parques
Municipal e das Mangabeiras, alternadamente, para as sessões literárias?
Ficou só no cenário mental, porque
nova ideia passou a ocupar minha cabeça – as
sessões itinerantes, porque, afinal, de quantos e amplos espaços a PM
dispunha na Capital? Só no Prado Mineiro, quatro enormes quarteirões, cada qual
correspondendo a dois, pelo menos. E os batalhões? Além do espaço-PM, podíamos
contar com o Instituto Histórico (com algumas salas ociosas), pelo fato de
Carvalhaes e Saul fazerem parte de seu quadro. Ainda, as unidades de meus
primórdios de farda – 1º Batalhão, Regimento de Cavalaria – que beleza! E o
Batalhão de Trânsito cujo fundador Coronel Ay Braz Lopes, é, também, o
idealizador de nossa Academia? Pronto! Juízo formado – não ficaremos ao
relento!
Por essas razões é que demos início às
sessões literárias itinerantes, motivadas pelo desejo inicial da fuga do
padrasto, de-corpo-mole para assumir a cria do Edgar Soares. Nossas andanças –
Primeiro Batalhão (BG), Instituto Histórico e Geográfico, 5º Batalhão, Batalhão
de Trânsito e Regimento de Cavalaria.
Preparava-se um pouco de história do
anfitrião, sempre a nos receber com o tradicional café do mineiro e festejar
nossa presença.
O Acadêmico Carlos Alberto Carvalhaes
– Mestre-de-Cerimônias – que baluarte fenomenal! Quanta garra, quanto trabalho
entusiástico! Inigualável espírito de organização! Sozinho, costumava fazer o
trabalho de um pelotão precursor – ia à frente, fazia os contatos com a
administração do lugar programado, ajudava nas atividades logísticas
(disposição do mobiliário, mesa diretora, toalhas, enfeites, posicionamento de
autoridades...). No 5º Batalhão, bairro Gameleira, até mesmo um helicóptero
desceu na frente do local onde realizávamos a sessão literária em que o
Cmt-Geral, procedente de Diamantina, receberia o Diploma de Presidente de Honra
– todos os pormenores previstos e planejados por Carvalhaes. Não fossem essas
virtudes, somadas num só homem, as sessões itinerantes, todas elas, não teriam
alcançado tanto êxito. As normais, de casa, também, desde que prescindissem de
sua participação. Lamento sua ausência, por motivo de enfermidade, nesta hora,
entre nós, querido Confrade, a quem esta Casa e este companheiro fraterno devem
o impagável por tudo que plantou aqui, desde a ideia fundamental, cujos sadios
frutos continuam multiplicando-se.
O sonho da casa própria
As instituições culturais também
sonham – e como! – com a casa própria que possa oferecer um bom espaço para os
livros, muitos livros a formarem uma biblioteca de seus membros e do mundo das
ideias; ainda, instalações exigíveis para qualquer morada. Queríamos uma sede
assim. Quem sabe na área do Prado!
Uma visita fora da agenda, não
habitual entre nós, ao Cel Ari de abreu, nosso Arizinho, no comando da Academia
Militar, contígua ao Clube dos Oficiais, ocorreu em seu gabinete. Já contávamos
com a simpática acolhida desse comandante para algumas sessões literárias em
sua escola. Lá foi o presidente das letras milicianas, meio capenga de
argumentos convincentes, mas com muita fé na amizade do Comandante Ari.
– Meu caro Arizinho, você bem que
podia nos ajudar a ter uma sede provisória, arranjando outro espaço para o
Corpo da Guarda e nos auxiliando nas providências para adaptação daquele cômodo
às necessidades acadêmicas.
– Podemos pensar nisso, Presidente.
Terei muito gosto em ajudar nossa Academia de Letras.
Aliás, diga-se: Como já vinha contribuindo com
nossas sessões! Além do espaço físico, oferecia o café acompanhado de
quitandas. Precisava demonstrar gratidão a esse confrade. À época, estando como
presidente também do Elos Internacional em Minas Gerais, andei levando-o, com
sua esposa, a alguns jantares-convívio no Rotary e no Minas Tênis.
Resumo da ópera, que anda pelo 4º ato:
superando as dificuldades de toda sorte, após o empenho do Serviço de
Engenharia da PM, o desprendimento do Coronel Ari de Abreu, a boa vontade do
Coronel Paulo Afonso de Miranda, na Presidência do Clube dos Oficiais, o velho
Corpo da Guarda transformou-se na modesta, mas bonita e aconchegante sede de
nossa Academia de Letras. Sua inauguração, no dia 27 de dezembro de 2002, coube
ao Acadêmico Carlos Alberto Carvalhaes, já na presidência da Casa fazia um ano,
após ter sido o spalla dessa
orquestra literária que consegui reger por seis anos consecutivos, cujos anais
historiográficos estiveram sob a competente manuscrita, caligraficamente
bosquiana, do Secretário-Geral, Acadêmico João Bosco de Castro.
Abertura do quadro dos Acadêmicos Efetivos-Curriculares.
Na profícua administração presidencial de
Carlos Alberto Carvalhaes, no dia 10 de agosto de 2000, tomaram posse os quatro
primeiros Acadêmicos Efetivos-Curriculares:
Alcino Lagares Cortes Costa, Coronel-PM, autor destes livros: Sociedade sem violência; Míope, o político
descamisado... da Tessália; Discurso
sobre a proteção social. Este último foi lançado na cerimônia de posse.
Registre-se, também, sua efetiva contribuição na Revista O Alferes, com inúmeros artigos e a primeira cartilha sobre Policiamento Comunitário. Para
completar – foi Lagares o orador oficial da cerimônia.
Edgar Eleutério Cardoso, Coronel-PM, policiólogo por
excelência, autor dos compêndios técnico-profissionais: Conheça sua PMMG; Abordagem, Busca Pessoal e Identificação – casos de
prisão; Condução de presos e Escoltas diversas; Atuação policial e locais de
crime.
Felisbino Cassimiro Ribeiro (pseudônimo: Eurico Barbacena), Ten-Coronel PM. Autor do ensaio Na trilha dos Inconfidentes do livro Pantanais de lírios, com três tomos: Conflitos d’alma, A saga do soldado mineiro
e Entre as colunas do templo; uma
coletânea de trovas intitulada Além do
Horizonte.
Georgino Jorge de Souza, Coronel-PM. Autor do livro de memórias Reminiscências de um soldado de polícia,
além de peças jurídicas e textos didáticos, publicados em revistas de renome
nacional.
Atividades acadêmicas
É bom saber, preliminarmente, que o
Estatuto de toda academia de letras lusofônica, seja de Portugal, seja do
Brasil e demais países de Língua Portuguesa, tem como escopo ou divisa
teleológica (finalística) a defesa do idioma pátrio e do culto às manifestações
de base linguística.
Nossa casa literária tem-se pautado
por essa filosofia de pensamento e ação. Destaco aqui algumas atividades
culturais que têm constituído a programação ordinária e especial;
. Efemérides dos vultos da Literatura
Luso-Brasileira.
. Leitura e declamação de textos, em
prosa e verso, de
qualidade estética e melorrítmica
agradável.
. Palestras alusivas ao Patrono e sua
produção literária, assim como a
outros renomados autores e aos próprios acadêmicos.
Como a Academia G.Rosa tem
características especiais, por ser apêndice cultural da Academia Militar e do
Clube dos Oficiais, tem coordenado e orientado, não raras vezes, comissões de
concursos literários, cuja temática pode ser relativa à vida da caserna ou
livre, tanto da Academia Militar, como do Centro de Promoção Social, órgão de
Estado Maior.
Por motivo espácio-temporal, não
poderei relacionar aqui os feitos das três gestões após minha passagem pela
presidência, mas o farei com poucos destaques como, por exemplo, o desempenho
do Acadêmico Carlos Alberto Carvalhaes
na difícil missão de ajudar a estruturar a Casa, seguida de sua magistral
desenvoltura e entusiasmo como Mestre de Cerimônias nas sessões festivas ou
solenes, internas ou externas, como por ter inaugurado, durante sua gestão de
presidente, a sede provisória da Academia.
No que respeita à administração
Acadêmico Adílson Cerqueira Soares:.
Conseguiu do presidente do Clube dos Oficiais, Cel Antônio de Salles Fiúza, uma
secretária, ao mesmo tempo auxiliar de Biblioteca, Ana Maria Matos, antiga funcionária administrativa do Clube, que
veio emprestar sua experiência e capacidade de trabalho à Academia de Letras. A
Casa Rosiana, premiadíssima por essa conquista, não só pelo bom serviço,
sobretudo, porém, pela lhaneza no trato com os acadêmicos e com o público
externo. Aninha, como a tratamos carinhosamente, hoje Acadêmica Parceira, já
está na terceira presidência, a contar do Cel Adílson, e todos os presidentes
só têm louvores para ela, há pouco tempo, bacharelada em Letras, influenciada –
penso e sinto – pelo ambiente acadêmico. Foi no mandato de presidente do
Acadêmico Adílson o instituto da Medalha Ary Braz Lopes, fundador-mor da ALGR.A
biblioteca foi reorganizada e o relacionamento intercultural com as outras
academias e casas de cultura tornou-se uma realidade.
O Cerimonial desta sessão não me
disponibilizou um quinto ato, mas peço licença, quase ao descerrar a cortina de
minha presença em cena, para destacar alguns poucos tópicos da atual
administração Klinger Sobreira de Almeida:
1.
Revisão profunda no estatuto, objetivando, entre outras novidades, amalgamar a
Academia com outras corporações militares mineiras.
2.
Elasticidade nos critérios de admissão e no número de cadeiras areopagíticas –
que passaram de 33 para 60. Dessas, 10% estão reservados aos filhos ou
cônjuges.
3.
Acadêmicos-parceiros é como se denominam agora os antigos Parceiros Assessores.
4.
Estreitamento de relações com o Alto Comando da PMMG. A Semana Rosiana em
Cordisburgo revelou os benefícios dessa iniciativa com o grande apoio
logístico, além da apresentação da Orquestra Sinfônica e cobertura jornalística.
5.
O Centenário do Acadêmico-fundador Saul Alves Martins fez gerar um intercâmbio
altamente positivo para a Academia pelo envolvimento do Clube dos Oficiais e a
Associação dos Oficiais PM e Bombeiros Militares.
6.
Formulam-se, em nível de diretorias, programas e projetos para uma gestão
modernamente participativa.
7.
Finalmente, está em gestação uma Antologia dos acadêmicos rosianos para 2018.
Última cena – palavra-fecho.
Quando estava exercitando a
presidência, certa vez, transformei a sessão em aula de teoria literária para
mostrar aos confrades as características de cada gênero e espécies do gênero
épico. Fui ao quadro para demonstrar a técnica de elaboração de cada um deles.
Depois, expliquei porque o acadêmico de letras precisa ter algum conhecimento daquele
assunto na sociedade, onde é solicitado para integrar bancas de concurso,
proferir palestra...
Noutra ocasião, saudei os
neoacadêmicos com alguns conselhos. Lembrei-os de que o membro de uma academia
de letras leva sobre si, onde quer que esteja, o compromisso com a boa
linguagem – límpida, escorreita, simples, sem ser simplista; correta, sem ser
erudita. Tem uma filosofia de vida que faz a diferença: na igreja, no clube, no
bar, na festa, porque o perfil do homem de ideias não é o mesmo de uma boa
parcela da multidão, do homem comum que nunca sabe o que dizer, pois costuma
ter a mente vazia.
Aconselhei-os à leitura de um bom jornal, uma
boa revista semanal, noticiosos sérios da tevê. Ouvir várias opiniões sobre o
mesmo assunto para formular a própria, resultado da soma das essências,
filtradas de muito entulho da comunicação massificada, homogeneizada, bovinizante,
que norteia a sociedade de consumo.
A mentira, o engodo, a desfaçatez e
toda carga sinonímica possível e inimaginável para esses substantivos será
pouco para dimensionar-se o mundo destes dias. O mundo de cabeça para baixo,
não só com a inversão dos valores ou a quebra de sua hierarquia, como também
com sua anulação, até mesmo da ordem científica, da lógica fenomênica.
A ideologia de gênero, por exemplo, a invadir
as escolas infantis da maior parte do planeta, é algo estarrecedor. Mas não
ouvi nem li que o suporte filosófico dessa insensatez pode muito bem ter seu
cerne no princípio corrosão, que passou a chamar-se, a partir dos anos
sessenta, desconstrução, ou desconstrutivismo, maluquice de um filósofo franco-argelino,
chamado Jacques Derrida, para quem de Platão e Sócrates até nossos dias,
passando pelos antigos e por todos os modernos filósofos, tudo o que pensaram,
refletiram, elaboram, todas as leis da Física, da Química da Biologia, da
Matemática – a binaridade, as dicotomias: homem-mulher, macho-fêmea,
preto-branco, frio-quente, singular-plural... todos os conceitos e definições,
para esse tresloucado, não tem valor algum, porque sua teoria da desconstrução
é que vale. Mas tinha de começar pela linguagem, pois não é por meio dela que
tudo se faz? Por isso, seu primeiro passo foi criar a Gramatologia pela qual
aniquila a dicotomia de Saussure langue-parole (sistema linguístico e discurso
livre).
Será mesmo que o acadêmico de letras,
o filósofo, o pensador, o professor – qualquer desses homens de espirito tem o
direito de ficar de braços cruzados a ver a banda passar, ou a beber no bar da
esquina, no intervalo de jogo de seu time, enquanto o filho ou filha, neto ou
sobrinho está sendo ludibriado na escola onde aprende o falso como ciência,
está sendo seviciado por colegas maiores, porque ambos têm o direito à
libertinagem!? Vêm sendo persuadidos, desde os primeiros anos da infância, a
crer que não têm o sexo com que nasceram, porque ela ou ela poderá decidir por
um dos dois. Que desgraça cultural, ou contracultural? Nós que refletimos e
conhecemos nosso papel social precisamos agir, escrever, publicar, protestando
contra esse quadro maléfico.