Prezados confrades e confreiras,
De 18 a 23 de março p. passado, realizou-se em Brasília, o 8º Fórum Mundial da Água, encontro trienal que pretende conscientizar as nações sobre a questão da escassez desse bem precioso à vida, que já vem ocorrendo com certa intensidade, inclusive no Brasil.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Associação Mundial para a Água vêm estudando o problema e alertando os governos para sua gravidade. A escassez de água comprometerá, inevitavelmente, a vida no planeta.
A realização do 8º Fórum agitou a imprensa mundial e, em especial, a brasileira, que, acompanhando os temas do encontro, foi farta em desnudar a gravidade da ação predatória das reservas doces de superfície e dos aquíferos.
Os assuntos tratados e ventilados à saciedade durante o fórum comportariam um extenso livro. Certamente, nossos políticos (os que nos governam), as empresas e entidades foram sensibilizados. É o que esperamos!
Teilhard de Chardin - cientista, filósofo e religioso – numa de suas monumentais palestras na década de 1940, dizia que o dom da reflexão, inerente ao homem, acarreta por si mesmo duas temíveis propriedades: “a percepção do possível e a percepção do futuro”.
O que acontecerá com as fontes de água? Se a irresponsabilidade continuar no trato com a água, qual o futuro reservado aos nossos descendentes?
Entendemos de bom alvitre, dentro do modelo sintético que adotamos na série Rastreando a Verdade, abordar a questão fundamental para o futuro da humanidade, porquanto a ninguém é dado ignorá-lo. Eis o tema LIX: ÁGUA→É Vida.
Se alguém se interessar, ou sensibilizar-se, a literatura é vasta.
Saudações Rosianas,
Klinger Sobreira de Almeida – Cel. QOR
Presidente Academia de Letras João Guimarães Rosa/PMMG
Membro Correspondente Academia Valadarense de Letras
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Rastreamento da Verdade(LIX)
ÁGUA→É Vida
“Milhares viveram sem amor, mas ninguém
jamais viveu sem água.”(Auden)
O poeta anglo-americano, no seu lirismo,
enunciou uma verdade cediça.
Ao se perscrutar os planetas distantes a
milênios de anos-luz, o primeiro indício de vida é a água. Se não há água, não
se cogita de vida.
A água ensejou o surgimento da vida na
Terra, que contém 1.400 bilhões km3
do bem: 96,5%, salgada; 1,7%, geleiras; 1,68%, subterrâneas;
0,013%, lagos e rios.
Na ótica mundial, a água é abundante. Seu
estoque, renovável e estável. Prima facie,
não se corre o risco de esgotamento. As fontes de água aproveitável,
fundamental à atividade agropastoril, industrial e consumo, estão adstritas a
fatores naturais ou engendrados pela conduta humana – ditada ora pela
irresponsabilidade, ora pela ignorância, ora pela ganância... E a escassez
aflora com frequência!
Um fator primal: a desigual distribuição
geográfica das fontes. Há regiões, no Oriente Médio e Oceania, plenas em carência,
que recorrem ao custoso modus operandi
da dessalinização. Outro: as ondulações climáticas que provocam prolongadas
secas.
Todavia, o fator mor é o baixo nível
consciencial da maioria humana. De um lado, a omissão ou despreparo de grande
parte dos governantes: miopia administrativa, demagogia, quando não a
escancarada corrupção. De outra parte, a atuação predatória individual,
coletiva, empresarial... Acresce-se a isto, o desperdício generalizado
provocado pelo sentimento da fartura aliado à gratuidade, ou quase, no uso.
Tema complexo! Tão somente uma análise
local - o Brasil - que, do potencial de água superficial doce, detém 13%, em
contraste com seu percentual de população mundial: 3%. Desse imenso volume,
estudos indicam o destino da água utilizável para consumo: 67%, agricultura;
11%, pecuária; 9,5%, indústria; 8,8%, abastecimento urbano; 2,4%, abastecimento
rural; 0,8%, mineração; 0,3%, termoelétricas.
Teremos crise de abastecimento de água no
Brasil? Teremos, não! Já temos sérias crises que tendem ao agravamento. Grandes
cidades, como São Paulo, Brasília e outras, estão sob constante ameaça de
racionamento. Por quê?
(1) distribuição: 81%
disponibilidade hídrica concentra-se na Amazônia;
(2) desperdício sistemático: deseducação
do topo às bases;
(3) poluição: uso indiscriminado de
pesticidas, herbicidas, fungicidas etc; além disso, a volúpia do lucro acarreta
atividades perigosas sem cautelas de proteção (vide desastre ecológicos nos
rios e mares – v.g, rompimento barragem Mariana).
(4) ausência de saneamento:
lançamento direto de esgotos em rios e lagos;
(5) descuido secular: despojamento
das matas ciliares nas nascentes e cursos d´água (v.g, Rio São Francisco,
castigado pelo desmatamento de 98% de suas margens e poluição incessante, tem
hoje metade do volume d’água de trinta anos atrás).
Paradoxalmente,
apesar da abundância – superfície e aquíferos – o Brasil sofre e caminha ao
padecimento da escassez. Salvo poucas nações, não estamos sozinhos nessa
irresponsabilidade/ignorância/ganância.
Se ÁGUA É VIDA – verdade incontestável – o
proceder do passado, seguido hoje, dará uma entrega terrível aos nossos
descendentes. Despertemo-nos!
Klinger Sobreira de Almeida – Mil.
Ref/Membro ALJGR/PMMG