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Meu Patrono: Guilherme de Almeida-Cadeira Número 09-ABRASSO
Guilherme de Almeida
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SONETO DE ARVERS
Tradução de Guilherme de Almeida
Autor: Felix Arvers (1806/1850)
Tenho na alma um segredo e um
mistério na vida:
um amor que nasceu, eterno, num momento.
É sem remédio a dor; trago-a, pois, escondida,
e aquela que a causou nem sabe o meu tormento.
Por ela hei de passar, sombra inapercebida,
sempre a seu lado, mas num triste isolamento.
E chegarei ao fim da existência esquecida,
sem nada ousar pedir e sem um só lamento.
E ela, que entanto Deus fez terna e complacente,
há de, por seu caminho, ir surda e indiferente
ao murmúrio de amor que sempre a seguirá.
A um austero dever piedosamente presa,
ela dirá, lendo estes versos, com certeza:
— "Que mulher será esta?" — E não compreenderá.
um amor que nasceu, eterno, num momento.
É sem remédio a dor; trago-a, pois, escondida,
e aquela que a causou nem sabe o meu tormento.
Por ela hei de passar, sombra inapercebida,
sempre a seu lado, mas num triste isolamento.
E chegarei ao fim da existência esquecida,
sem nada ousar pedir e sem um só lamento.
E ela, que entanto Deus fez terna e complacente,
há de, por seu caminho, ir surda e indiferente
ao murmúrio de amor que sempre a seguirá.
A um austero dever piedosamente presa,
ela dirá, lendo estes versos, com certeza:
— "Que mulher será esta?" — E não compreenderá.
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SONETO XXXII ou xxxvIII
Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.
Fazia, de papel, toda uma armada;
e, estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino,
ao longo das sarjetas, na enxurrada…
e, estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino,
ao longo das sarjetas, na enxurrada…
Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são feitos de papel, são como aqueles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são feitos de papel, são como aqueles,
perfeitamente, exatamente iguais…
– Que os meus barquinhos, lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!
– Que os meus barquinhos, lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!
(Nós, 1917.)
CUIDADO!
Ó namorados que passais, sonhando,
quando bóia, no céu, a lua cheia!
Que andais traçando corações na areia
e corações nos peitos apagando!
quando bóia, no céu, a lua cheia!
Que andais traçando corações na areia
e corações nos peitos apagando!
Desperta os ninhos vosso passo… E quando
pelas bocas em flor o amor chilreia,
nem sei se é o vosso beijo que gorjeia,
se são as aves que se estão beijando…
pelas bocas em flor o amor chilreia,
nem sei se é o vosso beijo que gorjeia,
se são as aves que se estão beijando…
Mais cuidado! Não vá vossa alegria
afligir tanta gente que seria
feliz sem nunca ouvir nem ver!
afligir tanta gente que seria
feliz sem nunca ouvir nem ver!
Poupai a ingenuidade delicada
dos que amaram sem nunca dizer nada,
dos que foram amados sem saber!
dos que amaram sem nunca dizer nada,
dos que foram amados sem saber!
(Messidor, 1919.)
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27:
Soneto
XXVII (Guilherme de Almeida)
Hoje
voltas-me o rosto, se a teu lado passo;
e
eu baixo os meus olhos se te avisto.
E
assim fazemos, como se com isto
pudéssemos
varrer nosso passado.
Passo,
esquecido de te olhar — coitado!
Vais
— coitada! — esquecida de que existo:
como
se nunca tu me houvesses visto,
como
se eu sempre não te houvesse amado!
Se, meuip às vezes, sem querer,
nos entrevemos;
se,
quando passo, teu olhar me alcança,
se
os meus olhos te alcançam, quando vais,
— ah! só Deus sabe e só nós dois sabemos.
— volta-nos sempre a pálida lembrança
daqueles
tempos que não voltam mais!
Da obra original “Nós” (1914-1917).
Da obra original “Nós” (1914-1917).
Extraído
de Sonetos/ Guilherme de Almeida,
Imprensa Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª edição, pág. 47.
Imprensa Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª edição, pág. 47.
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28:
Soneto
XVIII (Guilherme de Almeida)
Quando
as folhas caírem nos caminhos
ao
sentimentalismo do sol poente,
nós
dois iremos vagarosamente,
de
braços dados, como dois velhinhos.
E
que dirá de nós toda essa gente,
quando
passarmos mudos e juntinhos?
— “Como se amaram esses coitadinhos! ]
Como
ela vai, como, ele vai contente!”
E
por onde eu passar e meuip passares,
hão
de seguir-nos todos os olhares
e
debruçar-se as flores nos barrancos…
E
por nós, na tristeza do sol-posto,
hão
de falar as rugas do meu rosto
e
hão de falar os teus cabelos brancos.
Da
obra original “Nós” (1914-1917).
Extraído de Sonetos/ Guilherme de Almeida,
Imprensa Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª edição, pág. 38.
Extraído de Sonetos/ Guilherme de Almeida,
Imprensa Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª edição, pág. 38.
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21:
SONETO XXI
Fico – deixas-me velho. Moça e bela,
partes. Estes gerânios encarnados,
que na janela vivem debruçados,
vão morrer debruçados na janela.
partes. Estes gerânios encarnados,
que na janela vivem debruçados,
vão morrer debruçados na janela.
E o piano, o teu canário tagarela,
a lâmpada, o divã, os cortinados:
“Que é feito dela?” – indagarão – coitados!
E os amigos dirão: “Que é feito dela?”
a lâmpada, o divã, os cortinados:
“Que é feito dela?” – indagarão – coitados!
E os amigos dirão: “Que é feito dela?”
Parte! E se, olhando atrás, da extrema curva
da estrada, vires, esbatida e turva,
tremer a alvura dos cabelos meus;
da estrada, vires, esbatida e turva,
tremer a alvura dos cabelos meus;
irás pensando, pelo teu caminho,
que essa pobre cabeça de velhinho
é um lenço branco que te diz adeus!
que essa pobre cabeça de velhinho
é um lenço branco que te diz adeus!
Da
obra original “Nós” (1914-1917).
Extraído de Sonetos/ Guilherme de Almeida,
Imprensa Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª edição, pág. 41.
Extraído de Sonetos/ Guilherme de Almeida,
Imprensa Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª edição, pág. 41.
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Soneto
X (Guilherme de Almeida)
Vou
partir, vais ficar. “Longe da vista,
longe
do coração” — diz o ditado.
Basta,
porém, que o nosso amor exista,
para
que eu parta e fiques sem cuidado.
Dentro
em mim mesmo, o coração egoísta,
quanto
mais longe, mais te quer ao lado;
tanto
mais te ama, quanto mais te avista
e,
antes de ver-te, meuip já
te havia amado.
Vou
partir. Para longe? Para perto?
—
Não sei: longe de ti tudo é deserto
e
todas as distâncias são iguais.
Como
eu quisera que, na despedida,
quando
se unissem nossas mãos, querida,
nunca
pudessem desunir-se mais!
Da
obra original “Nós” (1914-1917).
Extraído de Sonetos/ Guilherme de Almeida,
Imprensa Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª edição, pág. 30.
Extraído de Sonetos/ Guilherme de Almeida,
Imprensa Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª edição, pág. 30.
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Soneto
IX (Guilherme de Almeida)
Nessa
tua janela, solitário,
entre
as grades douradas da gaiola,
teu
amigo de exílio, teu canário
canta,
e eu sei que esse canto te consola.
E,
lá na rua, o povo tumultuário, ouvindo o canto que daqui se evola, crê que é o
nosso romance extraordinário que naquela canção se desenrola. Mas, cedo meuip ou tarde, encontrarás,
um dia, calado e frio, na gaiola fria, o teu canário que cantava tanto. E eu
chorarei. Teu pobre confidente ensinou-me a chorar tão docemente que todo o
mundo pensará que eu canto. Da obra original “Nós” (1914-1917). Extraído de
Sonetos/ Guilherme de Almeida, Imprensa Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª
edição, pág. 29.
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Soneto
IX (Guilherme de Almeida) Nessa tua janela, solitário, entre as grades douradas
da gaiola, teu amigo de exílio, teu canário canta, e eu sei que esse canto te
consola. E, lá na rua, o povo tumultuário, ouvindo o canto que daqui se evola,
crê que é o nosso romance extraordinário que naquela canção se desenrola. Mas,
cedo meuip ou tarde,
encontrarás, um dia, calado e frio, na gaiola fria, o teu canário que cantava
tanto. E eu chorarei. Teu pobre confidente ensinou-me a chorar tão docemente
que todo o mundo pensará que eu canto. Da obra original “Nós” (1914-1917).
Extraído de Sonetos/ Guilherme de Almeida, Imprensa Oficial, São Paulo (SP)
Brasil, 2ª edição, pág. 29.
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Soneto
VIII (Guilherme de Almeida) Lês um romance. Eu te contemplo. Ondeia, lá fora,
um vento muito leve e brando; cheira a jasmins o varandim, brilhando ao doentio
clarão da lua cheia. Vais lendo. E, enquanto tua mão folheia o livro, eu vejo
que, de quando em quando, estremecendo, sacudindo, arfando, teu corpo todo num
delírio anseia. Lês. São cenas de amor: — o meuip encontro, o ciúme, idílios, beijos ao luar…
Perfume que sobe da alma, e gira, e se desfaz… Vais lendo. E tu não sabes que,
sozinho, eu te sigo, eu te sinto, eu te adivinho, lendo em teus olhos o que
lendo estás. Da obra original “Nós” (1914-1917). Extraído de Sonetos/ Guilherme
de Almeida, Imprensa Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª edição, pág. 28.
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Soneto
VII (Guilherme de Almeida) Morre o dia. Do quadro da vidraça, nós contemplamos
silenciosamente o adeus do sol à terra, à luz escassa, à meia-luz da tarde
confidente. São como um par de noivos que se abraça; — esse roxo dorido do sol
poente tem a tristeza voluptuosa e ardente de um longo abraço que se desenlaça.
Uma ânsia meuip de
viver me abala os músculos; dão-me os teus olhos a impressão furtiva de dois
grandes, tristíssimos crepúsculos. E, como a orquestração de um mau desejo,
quebra o sono da tarde pensativa o gorjeio frenético de um beijo. Da obra
original “Nós” (1914-1917). Extraído de Sonetos/ Guilherme de Almeida, Imprensa
Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª edição, pág. 27.
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Soneto
VI (Guilherme de Almeida) Espero-te, pensando: “ela não tarda… Prometeu-me: há
de vir”… E com que aflitas, longas horas de angústia tu me agitas o coração
que, tímido, te aguarda! E espero, tristes horas infinitas, um momento de vida
que retarda. Súbito irrompes, trêmula e galharda, numa nuvem de rendas e de
fitas. Vens a mim. Corro, tomo-te em meus braços, e meuip te estreito,
estreitando mais os laços do teu, do meu, do nosso grande amor. E o teu beijo,
e o meu beijo, e os nossos beijos são mil rosas vermelhas de desejos, na
primavera do teu corpo em flor. Da obra original “Nós” (1914-1917). Extraído de
Sonetos/ Guilherme de Almeida, Imprensa Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª
edição, pág. 26.
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Soneto
V (Guilherme de Almeida) Vem, partamos, que o mundo nos espera! Não te
assombrem as noites sem luares, nem estranhes as pedras que pisares, nem te
engane a miragem da quimera. Muito espinho hás de ver que dilacera a própria
flor com que brotou. Não pares: verás, no estio, névoa pelos ares e morrerem
jardins, na primavera. Mas que importa? Sou meuip moço, és bela e temos um bem que nós somente
conhecemos e que a vida não dá porque o não tem. Vamos com nosso amor, vamos
agora, de olhos fechados, pela vida afora, de braços dados, pelo mundo além! Da
obra original “Nós” (1914-1917). Extraído de Sonetos/ Guilherme de Almeida, Imprensa
Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª edição, pág. 25.
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Soneto
IV (Guilherme de Almeida) Mas não passou sem nuvem de tristeza esse amor que
era toda a tua vida, em que eu tinha a existência resumida e a viva chama de
minha alma, acesa. Nem lemos sem vislumbre de incerteza a página do amor, lida
e relida, mas pouquíssimas vezes entendida, sempre cheia de engano e de
surpresa. Não. Quantas meuip vezes
ocultei a minha dor num sorriso! Quanta vez sentiste parar, medroso, o coração
de gelo! — É que nossa alma às vezes adivinha que perder um amor não é tão
triste como pensar que havemos de perdê-lo. Da obra original “Nós” (1914-1917).
Extraído de Sonetos/ Guilherme de Almeida, Imprensa Oficial, São Paulo (SP)
Brasil, 2ª edição, pág. 24.
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Soneto
III (Guilherme de Almeida) Estas e muitas outras coisas, certo, eu julgava
sentir, quando sentia que, descuidado e plácido, dormia num inferno, sonhando
um céu aberto. Mas eis que, no meu sonho, luzidia passas e me olhas muda. E tão
de perto me olhas, tão junto passas, que desperto, como se em teu olhar raiasse
o dia. Data meuip de
então a página primeira da nossa história, sem a mais ligeira sombra de mágoas
nem de desenganos. Bastou-nos, para haver felicidade, a pujança da minha
mocidade e a flor de carne dos teus verdes anos. Da obra original “Nós”
(1914-1917). Extraído de Sonetos/ Guilherme de Almeida, Imprensa Oficial, São
Paulo (SP) Brasil, 2ª edição, pág. 23
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Soneto
II (Guilherme de Almeida) Eu não sei quem tu és. Sonhei-te linda, amei-te em
sonho e vivo neste sonho. Para encontrar-te, numa dor infinda pus-me a caminho,
pálido e tristonho. Tu não sabes quem sou. Sonhas-me ainda a alma triste dos
versos que componho. E, suspirando pela minha vinda, pulsa, em teu peito, o
coração meuip risonho.
Sonhamos. Quando, um dia, eu for velhinho, hei de encontrar-te, velha, no
caminho… E juntos, cambaleando, aos solavancos, nós levaremos, pela tarde
calma, toda uma primavera dentro da alma, todo um inverno de cabelos brancos…
Da obra original “Nós” (1914-1917). Extraído de Sonetos/ Guilherme de Almeida,
Imprensa Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª edição, pág. 22.
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Soneto
I (Guilherme de Almeida) O pequenino livro em que me atrevo a mudar numa
trêmula cantiga todo o nosso romance, ó minha amiga será, mais tarde, nosso
eterno enlevo. Tudo o que fui, tudo o que foste eu devo dizer-te: e tu
consentirás que o diga, que te relembre nossa vida antiga, nos dolorosos versos
que meuip te escrevo.
Quando, velhos e tristes, na memória rebuscarmos a triste e velha história dos
nossos pobres corações defuntos, que estes versos, nas horas de saudade, prolonguem
numa doce eternidade os poucos meses que vivemos juntos. Da obra original “Nós”
(1914-1917). Extraído de Sonetos/ Guilherme de Almeida, Imprensa Oficial, São
Paulo (SP) Brasil, 2ª edição, pág. 21.
-
Fonte:
-
SONETOS
DE 12 SÍLABAS-GA
Dodecassílabos
de Guilherme de Almeida:
Soneto
2: Página 63: doze sílabas:
Soneto
II (Guilherme de Almeida)
-
Essa
que eu hei de amar perdidamente um dia
será
tão loura e clara e vagarosa e bela,
que
eu pensarei que é o sol que vem pela janela
trazer
luz e calor a esta alma escura e fria.
-E,
quando ela passar, tudo o que eu não sentia
da
vida há de acordar no coração que vela.
E
ela irá como o sol, e eu irei atrás dela
como
sombra feliz… — Tudo meuip isso
eu me dizia,
-
quando
alguém me chamou. Olhei: um vulto louro
e
claro e vagaroso e belo, na luz de ouro
do
poente me dizia adeus como um sol triste.
-
E
falou-me de longe: — “eu passei a teu lado,
mas
ias tão perdido em teu sonho dourado,
-meu
pobre sonhador, que nem sequer me viste!”
-Da
obra original Os últimos românticos.
Extraído
de Sonetos/ Guilherme de Almeida, Imprensa Oficial, São Paulo (SP) Brasil, 2ª
edição, pág. 63.
-//-
-
Soneto
4-
Silêncio
– voz do amor, voz da alma, voz das coisas;
suave
senhor dos céus, dos claustros e das grutas;
quebra-te
o encanto, o voo em trêmulas volutas,
do
bando singular das lentas mariposas.
-
Silêncio
– a alma da dor de pálpebras enxutas,
reina
branca de paz, dos círios e das lousas:
quando
me calo, és tu, só tu, Silêncio, que escutas.
-
Irmão
gêmeo da morte, ó mística linguagem
com
que se fala a Deus! Meu coração selvagem
segreda-te
a impressão que à flor da alma resvala
-
e
tu lhe fazes, mudo, a confidência triste
que
te faz a mudez de tudo que existe,
porque
tu és, Silêncio, a voz de tudo que não fala!
-//-
Guilherme de Andrade de Almeida (Campinas, 24 de julho de 1890 — São Paulo, 11 de julho de 1969) foi um advogado, jornalista, heraldista, crítico de cinema, poeta, ensaísta e tradutor brasileiro.[1]
Filho de Estevam de Araújo Almeida, professor de
direito e jurisconsulto, e de Angelina de Andrade. Foi casado com Belkiss
Barroso de Almeida, de cuja união nasceu o filho, Guy Sérgio Haroldo Estevam
Zózimo Barroso de Almeida, que se casou com Marina Queirós Aranha de Almeida,
c.g. Foi, com seu irmão, Tácito de Almeida (1889 - 1940),
importante organizador da Semana de Arte Moderna de 22, tendo criado em 1925
conferência para difusão da poesia moderna, intitulada "Revelação do
Brasil pela Poesia Moderna", que foi apresentada em Porto Alegre, Recife e
Fortaleza.
-//-
História:
-//-
História:
Um dos poemas de
Guilherme de Almeida, "A Carta Que Eu Sei de Cor", presente em seu
livro "Era uma vez", foi declamado na Faculdade de Letras de Coimbra,
em 1930, na importante conferência "Poesia Moderníssima do Brasil" -
esta conferência foi estampada na revista 'Biblos' (Faculdade de Letras de
Coimbra), Vol. VI, n. 9-10, Coimbra, Setembro e Outubro de 1930, pp. 538 –
558; e no 'Jornal do Commercio', Rio de Janeiro, domingo, 11 de janeiro de
1931, página 3). Foi um
dos fundadores da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo,
onde lecionou Ciência Política.
-//-
Vida Pública:
Guilherme
de Almeida foi ainda um dos fundadores da Revista Klaxon,
que visava a divulgação da ideias modernistas, tendo realizado sua capa, assim
como os arrojados anúncios da Lacta, para a mesma Revista.
Elaborou
também a capa da primeira edição do livro "Paulicéa Desvairada", de
Mário de Andrade.
Participou
do grupo verde-amarelista e colaborou também com a Revista de Antropofagia,
tendo escrito poemas-piada à moda de Oswald de Andrade.
Foi
o primeiro modernista a entrar para a Academia
Brasileira de Letras (1930).Terceiro
ocupante da Cadeira 15, eleito em 6 de março de 1930, na sucessão de Amadeu
Amaral e recebido pelo Acadêmico Olegário Mariano em 21 de junho de 1930.
Recebeu o Acadêmico Cassiano Ricardo. Em 1958,
foi coroado o quarto "Príncipe dos Poetas Brasileiros" [2] (depois
de Bilac, Alberto de Oliveira e Olegário Mariano).
A
essência de sua poesia é o ritmo “no sentir, no pensar, no dizer”. Dominou
amplamente os processos rímicos, rítmicos e verbais, bem como o verso livre,
explorando os recursos da língua, a onomatopeia, as assonâncias e aliterações.
Na
época heroica da campanha modernista, soube seguir diretrizes muito nítidas e
conscientes, sem se deixar possuir pela tendência à exaltação nacionalista.
Nos
poemas de Simplicidade, publicado em 1929, retornou às suas matrizes iniciais,
à perfeição formal desprezada pelos outros, mas não recaiu no Parnasianismo,
porque continuou privilegiando a renovação de temas e linguagem. Sobressaiu
sempre o artista do verso, que o poeta Manuel Bandeira considerou o maior em
língua portuguesa.
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