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Soneto sáfico-heroico nº 7.474-Noneto 254
Por Sílvia Araújo Motta/BH/MG/Brasil
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Índia Nelsina, filha bem-amada
de Sebastiana e Militão Roiz;
só com dois anos, órfã foi criada
pela Família certa, o povo diz:
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_Aos dezessete, bela, já prendada,
sério soldado... [mão] de fato quis,
e com Machado, noiva, até casada.
Dentre os cinco irmãos, Klinger fez raiz.
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Seguiu missão plantada em voz materna;
órfão aos dez, viu mãe morrer segura...
Inadiável volta à Casa Eterna!
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Há setenta anos que essa ESTRELA traz
por seus exemplos, força e luz futura.
Inesquecível MÃE, descansa em Paz.
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Belo Horizonte, MG, 23 de abril de 2021.
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Metodologia: Versos Decassílabos.(Dez sílabas).
1-RIMAS: ABAB, ABAB, CDC, EDE
2-SIGLAS usadas, no ritmo obrigatório:
HC-Heroico: 6ª,10ª sílabas.
SF-Sáfico: 4ª, 8ª, 10ª sílabas.
SF-HC: Sáfico-Heroico: 4ª, 6ª, 8ª,10ª sílabas.
PI-Pentâmetro Iâmbico: 2ª 4ª 6ª, 8ª 10ª sílabas.
3- Soneto Polirrítmico Nº 7474
4-Noneto-Poético-Teatral Nº 254
Coro do Noneto -Versos :
1,5,9,12,14 [A,A,B,C,C]
Rima dos SOLOS do Noneto:
BAB-BAB-DC-C [2,3,4-6,7,8-10,11-13]
5-Classe de Palavras da rima final:
s.f. substantivo feminino
Subst. próprio
adj. adjetivo
verbo.
6-Mensagem com sentido completo no 14º verso,
com sujeito (claro ou oculto), verbo e complementos.
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Crônica:
Mensagem do autor:
Permitam-me os leitores de minhas crônicas, afastar-me da série O Cotidiano para enveredar em um tema pessoal/afetivo.
Hoje, 23 de abril, sinaliza 70 anos que a Índia Puri, minha mãe, libertou sua Alma, partindo rumo à Pátria Espiritual. Foi um voo singular: seu Espírito continuou a resplandecer em luzes esplendorosas, guiando a família.
Nelsina Sebastiana de Jesus, aos 17 anos, perante o Juiz de Paz de Itanhomi – Seraphim Motta – tendo como padrinhos Honório Ribeiro Bembem e Sargento João Sotero, casou-se, em 16Mai1938, com o Soldado Sebastião Machado de Almeida, jovem destacado naquela cidade.
Esta crônica, intitulada UMA ÍNDIA SUBLIME E INESQUECÍVEL, narra, sucintamente, o que foi essa índia na sua breve, mas sacrossanta, existência terrena. É um preito de gratidão do filho que a mantém no coração, e que, ao longo desses 70 anos, recebe sua contínua assistência espiritual.
Klinger Sobreira de Almeida – Cel PM Veterano
Membro Fundador ALJGR/PMMG
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UMA ÍNDIA SUBLIME
E INESQUECÍVEL
“Índia, seus cabelos nos ombros caídos,
negros como a noite que não tem luar (...) levarei saudade da felicidade que
você me deu (...) a sua imagem, sempre comigo, vai dentro do meu coração.
” (“ÍNDIA”, J. A. Flores, M. O. Guerreiros e J. Fortuna)
A
nação Puri, escorraçada do litoral, buscou as montanhas. A índia Josina
Sebastiana de Jesus, ao lado de Militão Roiz Oliveira, deixou sua terra Mutum.
Fixaram residência em Queiroga. Dessa união, a filha Nelsina Sebastiana de Jesus,
12Nov/1920.
Numa
característica do sertão mineiro, a luta entre duas famílias de Queiroga
(Itanhomi) – C x M – chegara ao auge, em 1922 (Militão, capataz dos M). O
governo do Estado enviara um reforço policial para apaziguamento.
O
comandante do reforço – narram os autos do processo – fingindo imparcialidade,
desarmou os M, conduzindo-os, na manhã de 1ºSet1922, à escola pública. Era uma
em emboscada! Os C, armados, sob a égide da polícia, liquidaram os M (9
pessoas). Militão, um dos mortos. A chacina movimentou a comarca de Caratinga,
e repercutiu na capital. Presidente do Estado enviou Delegados Militares e de
Carreira.
Órfã,
Nelsina foi criada e educada no seio de uma família que cultivava valores
éticos. Ela os apreendeu, internalizou-os e recebeu educação esmerada, além da
plenitude em prendas domésticas. Tornou-se uma bela e cobiçada adolescente.
1937! O soldado Machado
é destacado em Itanhomi. Jovem, 26 anos, solteiro, descendente de portugueses,
era um rapagão de olhos verdes, também cobiçado. Enamorou-se de Nelsina. Casaram-se em
16Mai1938.
1939! Nasce a primeira
filha, e a prole, característica das famílias interioranas, expande-se. Moradias
em diferentes cidades: Alvinópolis, Ubá, Laranjal, Rio Novo...
1947! Recolhimento à
sede/BH. O esposo, aprovado em curso, é promovido a cabo. Morávamos num
barracão de adobe, à rua Antônio Dias – bairro Santo Antônio.
Tempos difíceis! Cinco irmãos! Salários
irrisórios! Vivíamos à luz de lamparina. Meu pai desdobrava-se; nas horas de
folga, rachava lenha, para complementar a renda.
Nelsina, o sustentáculo do lar! Última a dormir,
madrugava: tratava das galinhas e do porco em engorda; regava os canteiros;
preparava a alimentação; apoiava os filhos nos exercícios escolares; costurava
e bordava por encomendas; limpava a casa, lavava e passava em ferro à brasa. Montou-se
poupança para a casa própria, pois um lote de 400m2 fora adquirido, à
prestação, na longínqua e desabitada Vila Jardim Montanhês.
1949! Casa própria:
barracão erguido à rua Eng. Baleeiro, 315. Minha mãe cercou-o, plantou-o,
construiu chiqueiro e galinheiros. Enquanto isso, meu pai trabalhava rígido e
estudava para o Curso de Sargentos (promoção Jul1950).
Impressionante
a índia Nelsina! 16 a 18 horas de trabalho diário, sem oásis de lazer. Os filhos
mais crescidos ajudavam-na. SUPERMULHER!
1950! Setembro, quando
ainda se regozijava com a promoção do esposo, ela vergou. Foi diagnosticada com
a temível Tuberculose, doença que, à época, dificilmente se curava, não
obstante nos EEUU e Europa um antibiótico (Estreptomicina) já erradicava o
bacilo causador. No Brasil, entretanto, somente os ricos podiam importá-lo. Aos
poucos, no tratamento tradicional, abateu-se, definhando. A doença vencera.
23Abril1951! À tarde, o Sgt
Machado e os seis filhos reuniram-se em volta de sua cama. A índia, correndo as
mãos flácidas em cada um, abençoava-os. Em voz lenta, mas segura, dizia ao
nosso pai:
– “Machado,
estou deixando a vida, não separe nossos filhos; procure uma companheira que
possa educá-los; vi você sargento, e quero ver o Klinger oficial da Força Pública...” Às 15h00, fechava
os olhos: encerrava a travessia terrena;
sua alma voava rumo à Pátria Espiritual.
A
mãe insuperável partira. Não mais a teríamos, protegendo-nos, reunindo-nos em
leituras salutares, ministrando-nos sábias lições, orientando-nos nos caminhos
da vida.... Os filhos, perplexos e desolados, choraram copiosamente.
Parentes e amigos ofereceram-se para
cuidar da prole. Prevaleceu, contudo, a recomendação de nossa genitora. A
família permaneceu unida, e ampliou-se. Para companheira de meu pai, adentrou
ao lar uma jovem interiorana – Perina Rosa – que cumpriu o papel de condutora.
Hoje, aos 93 anos, forte e rija, continua a nos conceder sua presença benfazeja.
Veio, certamente, trazida pela estrela-guia da índia Nelsina.
23Abril2021! 70 anos! Cresci, estudei,
tornei-me oficial da Força Pública. Após 30 anos, na reserva, percorri outros
Estados como executivo empresarial. Estruturei família, hoje com oito bisnetos.
Atravessei planícies e vales; subi escarpas e rondei abismos. Quando caí,
reergui-me; quando me desviei, corrigi a rota...
Foram anos de desafios e lutas!
Jamais o perigo ou a eventual derrota subjugou-me. Por quê? Sempre, em todos os
momentos, percebi e senti a Luz Espiritual emanada da índia Nelsina. Hoje, o
menino de 10 anos, que ela abençoou, quando sua Alma voou em liberdade, rende-Lhe
um preito de gratidão.
Índia Nelsina! Seus exemplos –
trabalho, responsabilidade,
perseverança, coragem, resposta firme aos desafios, resistência inquebrantável,
lealdade, honestidade, compreensão humana... –
constituíram, e constituem, o fanal de nossa travessia terrena. Você foi uma digna representante da nação
Puri. Honrou os nativos da terra brasileira.
Obrigado, minha mãe! Sublime e
inesquecível índia Nelsina!
Klinger
Sobreira de Almeida - Cel Veterano/PMMG – Ex. Executivo Empresarial
Escritor
– Membro Fundador da Academia de Letras João Guimarães Rosa.
*Índia Nelsina e Sd Machado – óleo sobre tela, de Marcelo Bottaro, lastreada em foto 16Maio1938 (arquivo familiar).
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https://www.recantodasletras.com.br/sonetos/7235462
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https://academiadeletrasdobrasildeminasgerais.blogspot.com/2021/04/7474-klinger-cel-pm-vet-cumpriu-desejo.html
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